LAB 2022: Filmes-poesia são inspirados em histórias do livro “Cartas à Maria da Penha

Participantes do LAB Audiovisual 2022 produzem filmes baseados em relatos da obra, que reúne histórias de 25 mulheres que sofreram violência doméstica no ES, e também nas vivências pessoais das jovens com a violência de gênero

A inquietação frente aos altos índices de violência contra as mulheres e a necessária luta de resistência e combate moldaram a essência do CineMarias, que em sua segunda edição realiza o LAB Audiovisual de produção de três filmes-poesia com base em denúncias da Lei Maria da Penha e nos relatos pessoais das jovens participantes. A novidade deste ano é que os roteiros produzidos também serão inspirados em histórias contadas no livro “Cartas à Maria da Penha”, que reúne cartas de 25 mulheres que sofreram ou presenciaram violência doméstica no Espírito Santo, lançado em junho de 2022.

A idealizadora da obra, Daniela Barreto Andolphi, conta que a ideia surgiu a partir dos relatos que recebia sendo professora da região da Grande Terra Vermelha, no município de Vila Velha, e, em especial, como coordenadora do Coletivo Nisia que atua na localidade. “As mães e avôs das meninas sempre reclamavam que tinham casos de violência doméstica, e como o Nisia é voltado mais para adolescentes, resolvi criar o ‘Cartas à Maria da Penha’ para essas mulheres mais maduras, que não tinham com quem falar sobre suas dores”, ressalta Andolphi.

Ao registrar esses testemunhos, o livro colabora para escrever a história de resistência dessas mulheres e o quanto a Lei Maria da Penha mudou a vida delas e as de seus filhos e filhas, e também a de outras mulheres, que enxergam nelas a possibilidade de alterarem a sua realidade. A memória, a educação e a luta é que nos permitem, de forma coletiva, transformar o país”. Essa é a fala que abre o prefácio da obra escrito por Iriny Lopes, ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres e relatora da Lei Maria da Penha na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados e atual deputada estadual.

A publicação com 25 capítulos, cada um dedicado a uma carta escrita pela própria participante, é resultado de um projeto mais amplo financiado por emenda parlamentar para mulheres da Grande Terra Vermelha, no município de Vila Velha. O objetivo da ação é que as participantes possam receber orientações sobre a garantia dos direitos por meio do conhecimento da Lei Maria da Penha e trabalhar a autoimagem para resgate da autoestima e empoderamento por meio de oficinas de arte, cultura e escrita criativa.

Andolphi avalia que a importância do projeto pode ser enxergada no resultado final, onde muitas alunas passaram a criar novas expectativas para o futuro, terem mais confiança para conquistarem empregos e serem multiplicadoras da importância em discutir a violência de gênero, inclusive, ministrando palestras sobre a temática.

A iniciativa não poderia ser mais urgente em um estado que ocupa a 6º posição no ranking de maiores taxas de feminicídio do país, segundo dados de 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ao longo de 2021, o estado registrou 106 assassinatos, dos quais 38 foram feminicídios, isso quer dizer que uma a cada 3 mulheres no ES foi vítima de crime por discriminação de gênero ou violência doméstica. Até junho de 2022, o número confirmado de feminicídio é de 15 vítimas do total de 46 mulheres assassinadas, conforme publicação da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do ES.

É ancorado nesse cenário estarrecedor, que são construídos os roteiros dos três filmes-poesia do LAB audiovisual, que misturam cinema e poesia para alertar sobre assuntos tão necessários de dar visibilidade e serão exibidos na 1A Mostra CineMarias – Corpo é território, entre 1 e 3 de setembro. O LAB atende, ao todo, 30 identidades femininas – mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries – com idades entre 18 e 35 anos, residentes da Grande Vitória e, prioritariamente, moradoras de comunidades atendidas pelo programa Estado Presente ou inscritas no CADÚnico. Desse grupo, a seleção também priorizou Pessoas com Deficiências (PCDs) e que já sofreram algum tipo de violência ou mesmo acionaram a Lei Maria da Penha.

A capacitação busca proporcionar um laboratório imersivo audiovisual para as alunes que queiram aprender a fazer cinema e discutir a violência contra a mulher nas telas. Acontece entre junho e julho e oferece ainda uma bolsa de R$600 para cada participante. São realizadas videoaulas, aulas presenciais e encontros online de Roteiro, Direção e Montagem, além da oficina de produção de filmes-poesia “Existo Porque Resisto” com a cineasta convidada Joyce Prado. As inscrições de 2022 foram realizadas entre maio e junho.

O CineMarias é um projeto social e cultural que por meio da arte busca estimular o protagonismo de mulheres e o aumento da representatividade feminina nos espaços de poder, na mídia, na TV e no audiovisual. Possui o patrocínio da ArcelorMittal e apoio da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Cine Metrópolis; da Faesa, da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça (Comvides). A produção é da Lúdica Audiovisual e a realização da Puri Produções e Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo – Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. 

icon_insta

@cinemarias

Assine nossa newsletter

para receber atualizações:

You have been successfully Subscribed! Ops! Something went wrong, please try again.

Entre em Contato