“Oficina Existo Porque Resisto” começa a produção de curtas femininos a partir de denúncias da Lei Maria da Penha

Até 26/7, participantes do LAB irão produzir filmes com base em denúncias e experiências com a violência de gênero. A cineasta Joyce Prado é quem irá ministrar a oficina cujas obras serão lançadas durante a primeira edição da mostra nacional de cinema feminino em setembro

A Lei Maria da Penha marca a importância do combate à violência de gênero, e para reforçar esse debate urgente e o protagonismo de identidades femininas nas telas, o LAB Audiovisual CineMarias promove oficinas de roteiro, direção e edição para 30 mulheres da Grande Vitória até 26 de julho. No dia 13 deste mês, as alunas participaram de uma roda  de conversa sobre os tipos de abusos e mecanismos da Lei Maria da Penha.

É preciso que a mulher saiba e tenha ferramentas para conhecer a aplicabilidade e extensão da lei, podendo ter conhecimento dos seus direitos para combater as violências e agressões físicas, psicológicas e tantas outras sofridas diariamente”, afirma Andréa Magalhães, Delegada do Plantão Especializado de Atendimento à Mulher em Vitória, convidada para participar do primeiro dia de acolhimento presencial, tirando dúvidas das participantes a respeito da  Lei nº 11.340/2006 e de pautas importantes sobre o direito da mulher.

O LAB é voltado para mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries, com idades entre 18 e 35 anos. As alunas estão criando roteiros de três filmes-poesia inspirados no livro “Cartas à Maria da Penha”, obra financiada com recursos de emenda parlamentar, resultado de um projeto mais amplo com oficinas de escrita criativa que nasceu da inquietação da organizadora e idealizadora do material Daniela Barreto Andolphi com o alto índice de mulheres vítimas de violência familiar da Grande Terra Vermelha, Vila Velha. As produções das alunas também se inspiram em suas próprias experiências de assédio, seus desejos e fabulações de outros desfechos de futuros possíveis para essas histórias de violência que acometem todos os estados do Brasil e do Espírito Santo.

Em 2021, ocorreram um total de 1.319 feminicídios no país, recuo de 2,4% no número de vítimas registradas em relação ao ano anterior. Já a taxa de mortalidade por feminicídio foi de 1,22 mortes a cada 100 mil mulheres, ficando o Espírito Santo entre os oitos estados com maiores taxas no país com 1,7, superior à média nacional. Os primeiros foram Tocantins e Acre, ambos com média de 2,7 casos, seguidos de Mato Grosso do Sul (2,6), Mato Grosso (2,5), Piauí (2,2), Rondônia (1,8), e Pernambuco e Espírito Santo, ambos com 1,7. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 

Com a capacitação, as alunas têm a oportunidade de aprenderem técnicas da área do audiovisual, trabalhando de forma poética e artística com profissionais reconhecidas do circuito capixaba e nacional. A cineasta Joyce Prado, que possui importantes contribuições para o cinema nacional, vem até Vitória especialmente para aplicar a oficina “Existo porque resisto”, onde as alunas vivenciam na prática a experiência de um set de cinema e estúdio de gravação explorando uma série de habilidades que existem em torno do audiovisual para construção de narrativas, mensagens, posicionamentos e formas de reivindicação que elas querem trazer para o curta. 

“A ideia principal das oficinas é conversar sobre quais são as potências que o audiovisual tem da transmissão de conhecimento, da reivindicação por direitos, do registro e dos conflitos do que é contemporâneo, como o direito das mulheres e a vivência de pessoas negras e trans, vistas como minorias”, destaca Prado.

Para as produções, foi escolhido o cinema de poesia por unir elementos reais e experimentais de ficção e de poesia, permitindo, assim, que um assunto tão delicado e sensível possa ser abordado com uma linguagem livre, sem perder o caráter importante da denúncia. “É uma maneira de unir duas potentes linguagens, pensando no que consegue potencializar do poema no audiovisual e o que consegue potencializar do audiovisual a partir do poema, tendo em vista, também, que o poema traz em sua grande maioria um lugar de primeira pessoa, potencializando as narrativas, e conseguindo traduzir tão bem o relato de vivências sob as perspectivas de cada um dos projetos”, afirma a cineasta. 

Filmes-poesia terão estreia na mostra nacional

Os filmes-poesia serão lançados durante a 1A Mostra Cinemarias – Corpo é território, que acontece de 1 a 3 de setembro, no Cine Metrópoles, na Ufes, com exibição de curtas capixabas e nacionais dirigidos por identidades femininas. As duas mostras são competitivas e terão premiação para o melhor filme e direção. 

Maytê Hensso, aluna do LAB 2022 e também produtora cultural e bailarina com projeto aprovado pela Secult ES, enxerga potencial empoderador e criativo do curso. “O LAB Audiovisual CineMarias tem se tornado um ambiente onde é possível encontrar mulheres potentes com o desejo de sobrepujar a estrutura operante a partir da experiência visual. A troca valiosa que tem ocorrido nos encontros nos une ao tempo que nos colocamos, cada uma com sua identidade e modo de fazer e pensar. Assim, acredito que a evocação das Marias para esse encontro é uma forma de, pelo visual, sensibilizar o olhar para perceber os espectros das diversas feminilidades presentes na sociedade capixaba. Um convite a refletir sobre essas corporeidades e seus atravessamentos sociais.”, afirma.

Para a Coordenadora Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Juíza Hermínia Azoury, também presente na roda de conversa, o CineMarias consegue “abordar de forma tão lúdica uma temática tão triste”, afirmando para as jovens o quão importante é que elas sejam multiplicadoras dessa temática de combate a violência por meio do cinema. Também participaram do momento a Analista do Judiciário do TJES Inês Veltri, Lucilene Mol Roberto e a psicóloga clínica hospitalar Alessandra de Freitas Dias de Jesus do Instituto Psicologia para Todos.

O CineMarias possui o patrocínio da ArcelorMittal e apoio da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Cine Metrópolis; da Faesa, da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça (Comvides). A produção é da Lúdica Audiovisual e a realização da Puri Produções e Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo – Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. 

Cinema para grupos de riscos

As inscrições para a etapa formativa do CineMarias foram realizadas entre 2 e 21 de junho e contaram com aproximadamente 100 inscritas. A comissão avaliadora selecionou as 30 jovens que receberão bolsa-auxílio de até R$ 600 para participarem das atividades e estudarem cinema pela primeira vez.

Foram selecionadas mulheres entre 18 e 35 anos, residentes da Grande Vitória e, prioritariamente, moradoras de comunidades atendidas pelo programa Estado Presente ou inscritas no CADÚnico. Desse grupo, também foram priorizadas Pessoas com Deficiências (PCDs) e que já sofreram algum tipo de violência ou mesmo acionaram a Lei Maria da Penha.

Os dados evidenciaram que, entre as inscritas, 69,6 % já sofreram algum tipo de violência (física, sexual, patrimonial ou moral), 68,5% se autodeclara negra (pretas e pardas) e a maioria possui renda de até um salário mínimo (66,3%).

Produção de filmes

13/07 – Palestra sobre a Lei Maria da Penha e Roda de acolhimento com especialistas

Local e horário: FAESA (unidade da Av. Vitória) – 13h às 17h

14/07 e 15/07 – Curso voz e introdução à criação de roteiro

Local e horário: FAESA (unidade da Av. Vitória) – 12h às 18h

18/07 a 21/07 – Oficina de direção e produção de filmes-poesia Existo Porque Resisto com Joyce Prado, que atua como diretora, roteirista e também é a fundadora da Oxalá Produções, empresa focada em conteúdos sobre a cultura e comunidade afro-brasileira e diaspórica.

Local e horário: Ufes (campus Goiabeiras em Vitória) – 12h às 18h

25 e 26/07 – Somos todas montadoras – introdução ao pensamento da edição

Local: FAESA (unidade da Av. Vitória) – 12h às 18h

1A Mostra CineMarias – Corpo é Território

O CineMarias também realiza entre 1 e 3 de setembro a 1A Mostra CineMarias – Corpo é Território, no Cine Metrópolis (Ufes), um festival de cinema feminino que propõe uma reflexão sobre a memória social da mulher a partir das experiências de seu corpo individual e coletivo nos espaços que ela ocupa. A Mostra conta ainda com a formação A Tela Por Elas, workshops e masterclasses de criação gratuitos com profissionais reconhecidas do cinema e da TV nacional. Todas as atividades são gratuitas e as inscrições para a formação, assim como a íntegra da programação de filmes e rodas de debates serão divulgadas um mês antes do evento, no início de agosto nas redes sociais do projeto.

Puri Produções

Produtora dedicada à realização e produção de eventos de cunho artístico, social e educacional. É especializada em produção audiovisual e de eventos. Produziu a edição de programas de TV, como o “Somos Capixabas”, da TV Gazeta, edições do FECIM – Festival de Cinema e TV de Muqui, e do Multipliqui – Festival de Música de Muqui. Em seu portfólio está ainda a gravação de videoclipes de artistas capixabas e cobertura audiovisual de manifestações artísticas no Estado do Espírito Santo.

Serviço

Divulgação da programação do LAB Audiovisual CineMarias 2022

Realização do LAB Audiovisual e da Oficina “Existo Porque Resiso”: 30 de junho a 26 de julho

Vagas: 30

Público: Mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries, de 18 a 35 anos, prioritariamente residentes nos bairros abrangidos pelo Programa Estado Presente do Governo do Estado do Espírito Santo ou inscritas no CADÚnico.

Ações: LAB Audiovisual com bolsas para sensibilização e capacitação básica (cursos de roteiro, direção e montagem, e oficina prática de filmes-poesia). Atividades educativas sobre direito e violência contra a mulher, dramaturgia e representação feminina na TV, no cinema e na mídia. O valor da bolsa para as participantes é de R$ 600.

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